Kathryn de Pássaro Errante despediu-se do seu emprego para explorar a Europa numa autocaravana com o seu marido (desnorteado). Lê aqui o que ela gostaria de saber antes de viver numa carrinha.
Alguma vez quiseste mudar tudo na tua vida? Sabes, como vender as tuas coisas, livrar-te da casa, despedir-te do emprego, fazer as malas e partir para além do horizonte?
O que te impediu?
Tens senso comum, certo? Anda lá; não é como se as pessoas normais fizessem isso.
Hi. Chamo-me Kat. Há três anos, despedi-me do meu emprego (bem pago e estável) como controladora de tráfego aéreo em Londres para que o meu marido e eu pudéssemos viajar pela Europa numa autocaravana. Para sempre.
Não foi um ano sabático. Não havia nada de “vamos ver como correm as coisas durante alguns meses”. Atirámo-nos de cabeça, comprámos uma carrinha, poupámos como loucos durante quase um ano, vendemos a maior parte das nossas coisas e partimos.
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Isso foi em 2018, e a vida tem sido uma aventura desde então. Houve momentos altos incríveis e outros muito mais difíceis (sabes, como uma pandemia global e um confinamento total!) Mas não mudaria nada (exceto talvez aquela vez em que os nossos travões falharam quando estávamos a descer uma montanha…!)
Sei que viver de forma alternativa não é para toda a gente. Mas se, lá no fundo, viver numa carrinha te parece algo que ADORAS experimentar, aqui estão 9 coisas que eu gostaria de ter sabido esperar – para te ajudar a estar mais preparado do que eu!
1- A forma como vives numa casa NÃO é a forma como vives numa carrinha
Numa casa, estávamos habituados a passar o tempo separados. E ter salas separadas para actividades diferentes. O meu marido tinha o seu escritório, a sua garagem e o seu “barracão de homem”. E eu tinha uma cozinha, uma sala de jantar/sala de artesanato, mais um quarto de hóspedes/escritório/ginásio/casa de despejo (oh, o luxo.)
Mas na carrinha, claro, não tens todo este espaço. Dependendo da disposição da carrinha que comprares, um espaço terá de fazer TUDO. Para ti. Ao mesmo tempo.
Aprendemos muito rapidamente que quando o meu marido estava a trabalhar (felizmente, ele consegue fazer 90% do seu trabalho remotamente), deixava-me maluca se tivesse de me sentar ao lado dele e ouvi-lo ao telefone a falar em voz alta sobre computadores, software e outras coisas que eu não entendo durante horas.
Por isso, aprendemos a adaptar-nos. Eu levava o cão a dar um longo (longo!) passeio enquanto ele fazia algum trabalho, e ele prometia não voltar a ligar a carrinha ou começar a mexer completamente na Internet enquanto eu estava a tentar ver a F1.
O objetivo é chegar a um compromisso. Estávamos tão habituados a fazer as coisas de forma independente, em salas separadas, sem sequer pensar nisso, que quando só tínhamos um espaço, especialmente num dia de chuva, encontrar um ritmo que funcionasse para nós levou tempo.
2- Vais fazer demasiadas malas. Em massa
Detesto dizê-lo, mas NÃO precisas de tantas coisas como pensas. Prometo-te.
Por exemplo, quando começámos a viver numa carrinha, levávamos quatro cobertores quentes e confortáveis connosco. QUATRO. Só havia dois de nós a bordo!
Também levámos um espremedor de sumos, uma varinha mágica, um batedor de mão e formas para bolos – nenhum dos quais utilizámos.
Não estou a dizer que não devas andar com todas estas coisas. Se fazes sumo todos os dias ou fazes bolos regularmente, ótimo (e podes vir viajar comigo?!), mas nós não fazemos essas coisas. Por isso, não deveríamos andar com essas coisas. Reduzir a dimensão é difícil, mas viver com a desarrumação é ainda mais difícil. Sê implacável!
3- A Vanlife não te vai tornar mais saudável
Confessa. Pensei que viver numa carrinha me tornaria… melhor. Levantava-me mais cedo, meditava durante pelo menos uma hora, fazia uma corrida de 75 quilómetros antes do pequeno-almoço (que seria cenoura e fruta fresca) e, no espaço de uma semana, seria uma modelo magra com cabelo loiro. Ah, e seria capaz de fazer surf.
SPOILER- não aconteceu. Na verdade, acordo cedo porque tenho um cão, e passear ao nascer do sol é uma das minhas coisas preferidas. Mas nós viajamos pela Europa. E passaste muito tempo em autocaravanas em Espanha e França, onde há croissants. E dor acabada de fazer. E bolos. Portanto, não à modelo magra (ou ao cabelo loiro!)
E eu tentei surfar – várias vezes. Também já tentei correr. Não tenho jeito para nenhum dos dois, embora um seja definitivamente mais divertido do que o outro.
Viver numa carrinha não te muda magicamente a ti (ou às pessoas com quem viajas!) Continuas a ser a mesma pessoa, com os mesmos gostos ou desgostos. Como em tudo, tens de trabalhar para mudar.
4- Tentarás fazer demasiado
Aprendemos que temos tendência a planear demasiadas viagens de carro – e não temos tempo suficiente para fazer turismo. Em poucas semanas, estávamos exaustos de viajar quase sem parar. Por isso, agora tentamos fazer um dia de condução e depois um ou dois dias de exploração, em que ficamos instalados ou, pelo menos, na zona local.
Também aprendemos que as coisas correm melhor se planearmos dias específicos para o trabalho e para a diversão. Isto é ótimo até descobrires que os únicos dias de sol nessa semana são os dias que designaste como “tempo de trabalho”, por isso tenta ser flexível se puderes.
E, definitivamente, planeia algum tempo de descanso, em que possas apenas ler um livro ou fazer trabalhos na carrinha ou apanhar banhos de sol numa praia.
5- As tarefas ainda têm de ser feitas (e ocupam tanto tempo!)
Infelizmente, viver numa carrinha não exclui a necessidade de fazeres tarefas como limpar ou lavar a roupa. E demoram MUITO mais tempo quando tens de encontrar uma lavandaria ou quando não tens um aspirador potente contigo.
Pelo lado positivo, é um espaço muito mais pequeno, por isso as coisas ficam limpas num terço do tempo que demorariam numa casa, o que é uma grande vantagem!
A carrinha também precisa de manutenção regular para se manter em bom estado. Não ignores isto – é importante para evitar quebras.
6- A família e os amigos NÃO compreenderão as tuas escolhas.
Há dois tipos de pessoas no mundo. Aqueles que não conseguem compreender a ideia de viver num espaço pequeno, como uma carrinha ou um barco… e aqueles que planeiam, sonham, poupam e esperam um dia fazer exatamente isso!
Os meus pais são do Tipo Um. Aos seus olhos, deves trabalhar arduamente, ter boas notas e depois um bom emprego, comprar uma casa grande que mal consegues pagar, passar mais de 40 anos a pagar a hipoteca e todas as outras dívidas; depois, eventualmente, podes reformar-te e divertir-te.
Dizer que a minha família e a maioria dos meus amigos ficaram chocados com a minha escolha de deixar a minha carreira e reduzir o tamanho da minha carrinha é um eufemismo. No mundo deles, eu era demasiado jovem para me libertar dos grilhões da responsabilidade.
Passei imenso tempo a tentar explicar os meus sentimentos – como queria explorar o mundo enquanto era suficientemente jovem para o desfrutar, como ter uma casa grande não era a coisa mais importante para mim e como me sentia presa ao trabalho das 9h às 17h.
Por fim, apercebi-me de que esta era a MINHA vida e que não havia problema em ter opiniões e sonhos diferentes dos deles. Para eles, não fazia sentido deixar um emprego seguro em busca de liberdade e aventura.
Para mim, não fazia sentido ficares. Se tens familiares assim, espera por águas turbulentas durante algum tempo.
7- As pessoas ficam estranhamente curiosas sobre as tuas finanças
Na “vida normal”, é pouco provável que perguntes a estranhos sobre o seu plano de reforma. Ou como vais ganhar dinheiro suficiente. Ou o que acontece se ficarem doentes.
Mas, por alguma razão, viver de forma alternativa, especialmente se estiveres a viajar e não tiveres um “emprego a sério”, deixa as pessoas curiosas. MUITO curiosas. E não me refiro às pessoas que conheces na estrada (elas percebem), mas a outras pessoas que podes conhecer, como os amigos dos teus pais.
Como uma rapariga britânica que foi educada para não falar de dinheiro, pode parecer estranhamente intrusivo ter estranhos a perguntar sobre a tua situação financeira. Vou ser sincero: às vezes falo abertamente, outras vezes calo-me.
Tento ser muito mais aberto com qualquer pessoa que esteja a pensar em mudar de vida – lembro-me de como era assustador o aspeto financeiro de deixar o meu emprego e de como estava preocupado em fazer com que as coisas funcionassem.
Além disso, antes de sair do trabalho, nunca me tinha apercebido de quanto da nossa identidade social se baseia no nosso trabalho – ou de quantas vezes fazemos essa pergunta para quebrar o gelo quando conhecemos alguém. Perder isso foi estranho, e demorei algum tempo a encontrar uma resposta que funcionasse para mim.
Também tem sido fascinante ver como as pessoas interagem em diferentes grupos sociais. Se conheceres alguém na estrada, é mais provável que essa pessoa te pergunte onde estiveste e que modificações fizeste no teu veículo do que o que fazes no trabalho.
8- Demasiada liberdade pode parecer esmagadora
Dito isto, uma das maiores lições que aprendi é que demasiada liberdade pode parecer assustadora. O facto de poderes ir a qualquer lado e fazer praticamente tudo, sempre que quiseres, pode ser esmagador.
Desde que começámos, descobri que “vaguear por onde o vento me leva” não funciona para mim. Como ex-militar, preciso de objectivos sólidos. Coisas para fazeres numa lista. Lugares para visitar e coisas para fazer.
No entanto, ter a liberdade de poder ficar num sítio de que gostamos durante mais tempo do que pensávamos, ou de poder fazer um desvio se soubermos que está a decorrer um evento ou um festival, é uma das melhores coisas de não ter restrições de tempo (ou de ter de voltar ao trabalho na segunda-feira de manhã!)
É sem dúvida um equilíbrio que tentamos encontrar – entre o planeamento excessivo e o tempo para desfrutar do que a vida nos traz.
9- As pessoas que conheces na estrada vão mudar a tua vida
Por falar em outros vanlifers, vais encontrar-te imediatamente numa comunidade incrível de aventureiros com os mesmos interesses. Quem vive numa carrinha, seja a curto ou a tempo inteiro, tem uma certa forma de ver o mundo.
Eles vão perceber a tua decisão de mudar de vida, de te despedires do teu emprego ou de agarrares a vida com as duas mãos e VIVERES.
Passámos noites maravilhosas à volta de fogueiras, partilhando cervejas e histórias com estranhos. Já conversámos com pessoas de todo o mundo, mesmo que não falem a mesma língua.
Estas são as pessoas que nos inspiram a visitar lugares de que nunca ouvimos falar e as pessoas com quem gostamos de nos manter em contacto e seguir as suas aventuras.
Reflexões finais
Eu sei que mudar a tua vida é difícil. Há um milhão de razões para NÃO o fazeres – a maior parte delas tem a ver com o facto de o conhecido ser menos assustador do que o desconhecido e os “e se”.
Fizemos muita pesquisa antes de finalmente darmos o passo em frente. Sabíamos como fazer um orçamento, aprendemos a viver com um salário e já tínhamos passado 15 anos a viver num barco, por isso estávamos habituados a viver juntos num espaço pequeno. Pensámos que estávamos preparados para tudo.
Os pontos acima são as coisas que mais me apanharam de surpresa ou coisas que aprendemos desde então. Alguns são bons, outros nem tanto, mas todos contribuíram para esta incrível aventura em que nos encontramos. Não mudaria a nossa decisão por nada, mesmo com os problemas que enfrentámos em 2020.
Encorajo qualquer pessoa que esteja a pensar em mudar a sua vida a ir em frente – ir mesmo em frente. Só tens uma vida, e pode ser a melhor decisão que alguma vez tomarás.
Podes encontrar-me nas redes sociais(Youtube ou Instagram) se quiseres algum incentivo ou conselho – ADORO ouvir pessoas suficientemente corajosas para viver fora da norma.
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